Dom Carlos Romulo

A vida em Cristo é eterna

“Quem ouve a minha palavra e crê em quem me enviou, tem vida eterna e não é submetido a julgamento, mas passou da morte à vida” (Jo 5,24). Nesta semana, no dia 02 de novembro, todos nós nos colocamos diante da memória de nossos entes queridos. Como é natural e humano, fazemos esta recordação com saudades, pois são pessoas queridas que marcaram nossa existência e que nos legaram muito do que somos, que ajudaram a formar nossa personalidade. O Dia de Finados também nos faz pensar e refletir sobre o sentido profundo de nossa existência. Não fazemos especulações sobre o futuro, que só a Deus pertence, mas somos chamados a olhar o presente que nos é dado com a profundidade da eternidade. O cristianismo nasceu na paixão, morte e ressurreição de Cristo. A partir da Páscoa de Cristo, todo o Evangelho é pascal, desde o anúncio do Anjo Gabriel, o nascimento em Belém, o batismo no Jordão, as palavras e os sinais. Toda a sua caminhada, de Nazaré a Jerusalém, revela o Eterno na história. Por essa razão, também o nascimento dos cristãos é pascal, pois pelo batismo fomos mergulhados na paixão, morte e ressurreição do Senhor: “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6,5). Esta vida nova é crer na Palavra, é deixar-se modelar pelo Evangelho. É um conformar a existência à Vida Nova que brota da Ressurreição de Cristo. A existência pascal é uma caminhada, uma conversão permanente, como nos diz o Apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, mantive a fé” (2Tm 4,7). Este ‘combate’ é uma luta cotidiana para morrer em nós o egoísmo, que se manifesta como idolatria do ter, do poder e do prazer. É ‘bom combate’, pois já revela, em nossa existência os traços da vida nova, da ressurreição, pelo serviço, pela partilha e pela fraternidade. A vida nova em Cristo é o eterno presente no cotidiano de nossa história. A Eucaristia revela sacramentalmente este mistério do eterno de Deus em nós. O Ressuscitado é alimento dos que creem, é Vida Eterna que transfigura e dá sentido à nossa entrega cotidiana. Em cada gesto de doação, de amor gratuito, de entrega generosa, o Eterno se revela na nossa história. O último suspiro de amor, de doação, de entrega, é o desabrochar da eternidade. Viver uma existência pascal, até tudo se tornar Páscoa no Senhor. Com estas palavras queremos reverenciar cada pessoa que, acolhendo esta existência como dom de Deus, a vive com sabor de eternidade e faz de cada acontecimento, bom ou difícil, uma experiência pascal. Sendo assim, temos certeza de que: “Se morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele” (Rm 6,8). Neste dia 02 de novembro, ao celebrarmos a Eucaristia em nossas paróquias e comunidades, estaremos professando nossa fé na Ressurreição, pois: “Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele” (Lc 20,38). Dom Carlos Romulo – Bispo da Diocese de Montenegro